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O Leão

O Leão





Assim que ele nasceu, trataram de lhe avisar: 'você é o rei de tudo, aqui.' Sim, ele mesmo. O Leão. Que, ao nascer, era um leãozinho fofinho, peludo, que mais parecia um bichinho de pelúcia do que o rei do que quer que fosse. Mas ninguém fica bebêzinho para sempre e também o leãozinho logo cresceu.

O leão não sabia o que significava ser o rei dos animais, o rei da floresta. Nunca lhe disseram exatamente a sua função, apenas que deveria cuidar de tudo. E ele ficava encafifado com isto. Como deveria cuidar de todos? O que era o melhor para todos?

Assim que cresceu um pouquinho, o leãozinho começou a andar pela floresta perguntando aos outros animais o que eles achavam que era o melhor para todos. Ao invés de ajudá-lo, sua pesquisa só lhe deixou mais confuso. Cada animal tinha uma opinião diferente do que era melhor para todos. Na verdade, cada um só dizia o que era melhor para si, não pensavam na coletividade.

O pai do leãozinho, o Sr. Leão, vendo que seu filho não sabia como agir, chamou-lhe para uma conversa séria.

  • Meu filho, em breve, eu me aposento. Eu e sua mãe vamos viajar, conhecer o mundo. Você irá assumir minhas funções.

  • Eu sei, papai – respondeu o leãozinho.

  • Sabe, mas não age como tal. Você é o rei da floresta!

  • Eu sei, papai.

  • Pois então pare de perguntar o que os outros pensam. Você é o rei, você decide o que é o melhor para todos!

  • Mas... e se eu achar errado? E se o que eu penso que é o melhor não é?

  • Tanto faz. Você é o rei, você decide e pronto. Eu vou te mostrar a mesma coisa que o meu pai me mostrou quando eu tinha a sua idade e as suas dúvidas.

E então o Sr. Leão levou o leãozinho para muito além da floresta. Andaram durante alguns dias até chegarem bem perto de uma cidade. O Sr. Leão avisou que só poderiam andar à noite, porque ninguém poderia vê-los. E foi numa noite que ele levou o leãozinho para um lugar mágico. Nele, havia um grande estacionamento, com carros parados uns ao lado dos outros. E, na frente de todos os carros, uma enorme tela branca. De repente, a tela iluminou-se. No meio dela, surgiu um enorme rosto de leão. Ele rugia alto, virando a cabeça. Parecia a criatura mais forte de todo o mundo. O leãozinho assistiu encantado àquela cena.

De volta para casa, o Sr. Leão deu seu conselho 'seja sempre como o leão que ruge alto!', que tinha sido o mesmo conselho que recebera de seu pai, muitos anos antes.

O leãozinho começou a treinar seu rugido. Em pouco tempo, rugia tão alto quanto o leão do filme. E estava grande o suficiente para assumir o comando da floresta.

O sr. e a sra. Leão arrumaram as malas, despediram-se do filho e colocaram o pé na estrada. Estavam querendo viajar há muito tempo e agora, finalmente, tinham a oportunidade.

E assim o leãozinho virou o Leão, o rei da floresta. De início, tudo permaneceu igual, sem que nenhum animal se desse conta de que ele agora comandava a bicharada. Até que um dia o lobo brigou com o macaco e os dois foram reclamar com o rei, pedindo que ele resolvesse o problema.

O Leão não sabia o que fazer, então fez a única coisa que sabia: rugiu alto, muito alto. O lobo e o macaco levaram um susto tremendo e saíram correndo dali. O leão ficou satisfeito. 'Resolvi a desavença', pensou.

Mais problemas surgiram, mais rugidos. O Leão achava que bastava rugir alto e forte que tudo se resolvia. Mas isto não era verdade. E foi assim que, uma hora, os problemas pararam de surgir.

Na verdade, os problemas continuavam acontecendo, como sempre acontecem. Mas os animais tinham tanto medo do Leão que não se aproximavam dele. Nomearam a girafa, que era justa, como 'juíza das causas florestais' e pronto. Surgia um problema, lá iam os animais consultar Dona Girafa. Ela pensava, ponderava, às vezes levava a questão ao rinoceronte, pedia opinião. E então solucionava o problemas. Todos ficavam muito felizes, sempre, com suas resoluções.

Todos, menos o Leão. Conforme o tempo foi passando, ele começou a se sentir muito sozinho. Não tinha amigos, não tinha com quem brincar, conversar: ninguém se aproximava dele. E ele foi ficando cada vez mais triste.

Um dia, o Leão saiu para dar uma volta. Foi até o riacho se refrescar. Chegando lá, encontrou o Elefante, que brincava de jogar jatos d'água no ar. Ao vê-lo, o Elefante fez cara de espanto, e já ia saindo de fininho, quando o Leão o chamou:

  • Elefante, não vá embora, por favor.

  • Sim, majestade – o Elefante estava azul de medo.

  • Podemos nos refrescar juntos, bater um papo.

  • Sim, majestade.

O Leão começou a contar das dificuldades de ser o rei da floresta, ter que tomar conta de todos. Contou de como treinava o seu rugido, e do quanto todos estavam satisfeitos, que não havia mais problemas na floresta.

E foi aí que o Elefante, mesmo com medo, resolveu contar a verdade ao Leão. Contou que todos o temiam, mais do que respeitavam. Contou dos problemas da floresta, da Dona Girafa e suas soluções.

O Leão ficou estupefato! Tudo aquilo acontecendo debaixo do seu nariz sem que ele tomasse conhecimento. Resolveu marcar uma audiência com a Dona Girafa. Conversaram durante horas. E então o rei da floresta convocou todos os animais à sua presença. E decretou:

  • A partir de hoje, todos governamos esta floresta! Eu sou o rei, e minha função é impedir que alguém de fora nos faça mal. Para isto é que serve o meu rugido.

Os animais entreolharam-se, sem saber o que pensar. Estaria ele falando a verdade? O Leão continuou o seu discurso:

  • A Dona Girafa e a Dona Coruja formam a junta da resolução. Todos os problemas deverão ser levados a elas. Elas analisarão e resolverão todos os problemas. Os que forem de difícil solução, irão encaminhar ao Sr. Rinoceronte, que emitirá um parecer. O Sr. Tigre será o chefe da segurança, que contará com a ajuda dos senhores Lobo, Hiena, Urso. Todos deverão defender a nossa floresta dos invasores...

E assim, um por um, o Leão foi dando função aos outros animais. Até as minhocas tinham uma função: manter o solo fértil. Todos ficaram muito satisfeitos com suas novas atribuições.


Ao final do discurso, o Leão disse:

  • E é assim que tem que ser. Todos nós tomando conta uns dos outros, pensando sempre no bem-estar do próximo. Todos cresceremos, produziremos juntos e seremos felizes assim.

O Leão estava certo. A floresta tornou-se um lugar único, onde todos ajudavam uns aos outros. Ninguém pensava só em si mesmo, todos queria o bem-estar geral. E foi assim que aquela pequena floresta, perdida no meio de tantas outras, tornou-se um lugar onde todos eram amigos e só faziam o bem. O lugar mais feliz do mundo, que deveria servir de exemplo para todos os outros...

2 comentários:

Aretusa disse...

Ainda bem que o Leão aprendeu a tempo que não é no grito que as coisas se resolvem, mas conversando e compartilhando.
Sophia também tem dessas, de querer resolver no grito, de não compartilhar e,a pior, chorar pra conseguir as coisas!! É preciso muita sabedoria nessa hora, pra ajudá-la lidar melhor com a situação, uma hora ela aprende!!
Beijos,
Aretusa, mamãe da Doce Sophia

Christiane Pereira disse...

Nossa acabei de descobrir seu blog...já está registrado como um dos meus sites favoritos!!! Parabéns! Adoro ler para os meus filhos e já estou com o estoque de livrinhos e historinhas escasso...MUITO OBRIGADA por me proporcionar mais momentos de aventuras com eles...adorei mesmo!
Beijos!
Chris

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