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Para Cláudia, com um beijo de saudades da Kitty


Miau, miau, miau, miau



Aquele era um lugar feliz. Como muitos lugares felizes que existem. Mas ali, especialmente, o amor era muito. Era um amor destes grandes demais, que não cabem no peito. Era um amor incondicional, destes de mãe para filho. Era assim o amor ali, da mamãe para os seus filhos. Que não tinham nascido de dentro dela, e nem poderiam. Porque seus filhos não andavam sobre duas perninhas, como andam os bebêzinhos. Eles desfilavam sobre quatro patas, com todo o charme dos gatinhos.

Chamavam-se Brown, Bob, Sy e Kitty, os gatinhos. Iguais e diferentes, ao mesmo tempo. Iguais na graça, na bossa que tem os felinos. Igual o amor que a mamãe tem por eles. E tão diferentes... Um mia, o outro também, tudo igual. Mas um é mais carinhoso, outro é teimoso, outra faz birrinha. O tempo todo, querem atenção e carinho. O tempo todo querem dizer: estamos aqui!

A mamãe, que se chama Cláudia, desdobra-se em cuidados com os quatro, igualmente. Sempre fez isto, e estava disposta a continuar assim para sempre. Só que nem sempre a vida acontece do jeito que a gente espera, e aí foi que um dia tudo mudou.

Tão carinhosa, tão linda, tão companheira. Um dia o miado ficou baixinho, como num suspiro de dor. A Kitty estava dodói. A mamãe, claro, começou a dar uma atenção mais especial à sua gatinha. Os irmãozinhos entenderam, nem reclamaram. E assim passou o primeiro dia, o segundo.

O que era para ser um algo à toa, virou um algo a mais. Um destes algo a mais que não podemos controlar. E passou a primeira semana, o primeiro mês, o segundo. O tempo foi passando. E o miado foi sumindo aos poucos.

Uma noite, a mamãe estava muito preocupada com sua gatinha. Tinha dados os remédinhos, feito muito carinho, mas alguma coisa a inquietava muito. Foi dormir, e então, para sua surpresa, viu a Kitty. Miando alto e feliz, sem dor. Aproximou-se devagar, mas não era preciso. Ao vê-la, Kitty correu e se aninhou em seus braços, ronronando baixinho. A mamãe fazia-lhe dengos e perguntou:

  • Você está bem, Kitty?

  • Eu estou muito bem, mamãe – Kitty respondeu.

  • E o seu dodói?

  • Passou!

  • Como?

  • Passou como passa o tempo. Passou como passa a vida.

  • O que isto quer dizer?

  • Que agora eu já não estou mais nos seus braços, mamãe! Eu agora moro para sempre no seu coração.

Ao ouvir isto, a mamãe pôs-se a chorar. Queria sua gatinha ali, nos seus braços, para sempre. A pequena e doce criatura lambeu-lhe as lágrimas, e com um doce sorriso, disse:

  • Não fique triste. Eu não estou! Toda a minha vida tive seu amor, e continuarei tendo. Para sempre amarei a você e aos meus irmãozinhos. Mas agora eu vou para outro lugar. Do alto do Céu, sempre olharei por vocês. Continuarei mandando meu amor e meu carinho. E você, mamãe, não tem razão mesmo para ficar triste. Eu não preciso estar ao seu lado. Eu estou dentro de você, para sempre! Eu estou mais feliz agora, sem dor. E você tem que ficar feliz também!

Cláudia não sabe o que aconteceu. Mas acordou, naquela manhã, com uma dor no peito, como um choro de adeus. E ao mesmo tempo, acordou leve, tranquila. Por saber que Kitty não sentia mais dor. E que estaria ali, em seu coração. Para sempre.

1 comentários:

carol disse...

Eneida,

Muito obrigada, vou imprimir e levar agora para a casa dela. Com certeza a historinha irá confortá-la muito.

Beijos,
Letícia

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