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Tem uma cobra na varanda!

Tem uma cobra na varanda!



No meio da noite, Napoleão pensou ter ouvido um ruído do lado de fora da casa. Saiu, silenciosamente, pela pequena portinhola situada na porta da cozinha. Com cautela, circulou toda a área em volta da casa até chegar à varanda. Olhou, mas não viu nada. Ainda assim, seu instinto lhe afirmava que havia alguma coisa estranha acontecendo ali. Deu um rosnado e três latidos fortes, para mostrar sua presença. Nada. Fez nova tentativa. Nenhum sinal de vida, ali. Esperou durante mais de meia hora, mas não conseguiu ver nenhuma movimentação estranha. Acabou voltando para sua cama, instalada no chão do sala.

O sol raiou e Napoleão acordou num susto. A impressão da noite anterior era agora ainda mais forte. Sem se preocupar com o barulho, saiu estabanado pela porta da cozinha e correu até alcançar a varanda. Quando chegou, não podia acreditar no que estava vendo. Ali, na sua frente, confortavelmente instalada no pilar da varanda, estava uma enorme, ameaçadora, pronta-para-dar-o-bote cobra! Napoleão não sabia o que fazer! Deveria espantá-la dali de uma vez, naquela hora, sozinho? E se fosse atacado? Achou melhor não arriscar. Com cuidado, foi distanciando-se, entrou devagar pela cozinha e... voou para o andar de cima!

Não sabia quem deveria chamar primeiro, mas como a Linda já tinha acordado e estava fazendo alongamento no corredor (esta gata tinha mania disso! Todo dia dizia que estava se alongando, mas Napoleão acahva que ela estava era se espreguiçando mesmo), resolveu começar por ela.

  • Linda, corre! Você não sabe o que aconteceu - tem uma cobra na varanda!

  • Aaauhhnn – Linda bocejou – bebeu, Napô? Como que uma cobra teria vindo parar aqui na varanda?

  • Como ela veio parar eu não sei, mas o fato é que ela chegou aqui! Vamos, vamos lá embaixo que eu te mostro.

  • Você está doido mesmo. O que que nós dois faremos diante de uma cobra? Temos que chamar alguém!

  • Isto, vamos já acordar o Leleco. Nós três juntos podemos...

  • Leleco? O que um cachorro e dois gatos poderão fazer contra uma cobra? Temos que chamar uma pessoa, alguém que possa, de fato, se livrar da bicha!

  • Se livrar?

  • Claro, ué. Você vai querer uma cobra ocupando a nossa varanda?

  • Não, mas...

  • Então, pronto. Temos que dar um sumiço nesta dita. E para isso precisaremos de ajuda.

De dentro do seu quarto, Tiana ouvia latidos e miados baixinhos e sabia que Napoleão e Linda estavam conversando no corredor. Apesar de não conseguir entender o que seus amigos estavam dizendo, Tiana pressentia que tinha alguma coisa errada. Quando a menina abriu a porta e interrompeu o diálogo dos dois, eles a olharam com espanto. Sem saber o que fazer, Napoleão fez um sinal com a cabeça para as duas. Tiana e Linda o seguiram em silêncio enquanto o cão descia as escadas e encaminhava-se para o lado de fora da casa.

Ao chegarem na varanda, Linda ficou com todos os pêlos do corpo arrepiados. Não imaginara que a cobra fosse tão grande. A menina, ao invés, parecia achar natural a cobra estar ali. Olhou para os dois e disse: 'vocês estão com medo da cobra, né?' Napoleão latiu; Linda encolheu-se toda. Tiana entendeu que estavam apreensivos. Chegou perto da cobra e disse:' bom dia, dona cobra! Eu sou a Tiana, aquele é o Napoleão, e aquela fofinha é a Linda. Você está visitando ou veio para ficar?'

A cobra olhava para a menina como se estivesse entendendo o que ela dizia. Desceu do pilar e ficou deitada no chão da varanda, imóvel, a poucos centímetros de distância do pé da menina. Tiana, por sua vez, não conseguiu conter a curiosidade e passou a mãozinha, delicadamente, pelo corpo do animal. 'Você tem a pele muito bonita', disse para a cobra. Virou-se, então, para Napoleão e Linda e afirmou:' está tudo bem, não há o que temer.' E saiu da varanda saltitando.

Napoleão e Linda se entreolharam. Deveriam confiar na cobra? Ela não atacara a menina, será que os atacaria? Napoleão resolveu dizer algo:

  • Bom dia.

  • Bom dia! - a cobra respondeu com alegria.

  • Bom dia, tudo bem? - continuou Linda.

  • Tudo ótimo! Respondeu a cobra.

  • Então... como você se chama? - Napoleão indagou.

  • Meu nome é Esmeralda.

  • E você vem sempre aqui, Esmeralda? - perguntou Linda.

  • Não, é a primeira vez. Eu estou indo para o almoço de domingo na casa da minha vó, que fica naquele pântano ali adiante. Resovi chegar um dia mais cedo para ajudar, mas acabou escurecendo e eu me perdi. Daí quando amanheceu, o sol estava tão gostoso que eu resolvi me bronzear um pouquinho.

Esmeralda continou conversando com Napoleão e Linda durante horas. O resto da família acordou, viu a cena e riu muito. Os três pareciam velhos amigos. Esmeralda era uma cobra que já tinha viajado por diversos lugares, tinha visto muita coisa, conhecido muita gente... enfim, tinha uma porção de coisas interessantes para contar. Napoleão e Linda, em cinco minutos de conversa, perceberam que ela era gente boa prá caramba, e a convidaram para vir vistá-los, todos os domingos, antes do almoço na casa da avó.

E assim foi feito. Todos os domingos, Esmeralda aparecia e contava como tinha sido sua semana. O cachorro e os gatos (Leleco logo virou amigo dela também) esperavam ansiosos para saber o que ela tinha para contar. Tiana sempre ficava perto deles, ouvindo a conversa. Não precisava entender o que estava sendo dito: sabia que seus bichinhos estavam de fofoquinha com a cobra e achava graça nisso.

Napoleão e Linda seriam sempre gratos à menina. Ela não sabia, mas havia lhes ensinado algo muito importante. Ela lhes mostrara que não devemos julgar os outros pela aparência. Bicho ou gente, cada um é de um jeito, mas na verdade são todos iguais. Todos devem ser tratados com educação, gentileza, respeito e consideração. Se não tivessem seguido o conselho de Tiana, teriam expulsado Esmeralda dali apenas porque ela era diferente. E teriam perdido a chance de fazer uma grande amiga.

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